Um jogador que deu a vida pelas cores, essa poderia ser a definição perfeita para a história de Lara no Grêmio. Mas afinal você conhece a história dessa lenda tricolor? Se conhece, vale a pena ler de novo, se não conhece, prepare-se para uma boa leitura sobre maior lenda da história do futebol rio grandense.
Eurico Lara, nasceu no dia 24 de Fevereiro de 1897. Natural de Uruguaia, seu primeiro contato mais sério com o futebol foi através do exército de sua cidade.
Não demorou muito para chegar aos ouvidos dos dirigentes gremistas que existia em Uruguaiana, um goleiro que quando jogava sua equipe simplesmente não perdia. O Grêmio foi rápido e mandou alguns olheiros para região com interesse de colher mais informações sobre esse tal atleta. No inicio, Lara não demonstrou muito interesse na proposta dos dirigentes. Muito apegado a sua cidade, Lara não estava interessado em atuar como jogador em Porto Alegre.
Algumas pessoas influentes dentro do Grêmio, conseguiram transferir Lara do exército de Uruguaiana para o exército da capital.
Chegou a Porto Alegre em 1920, mas uma curiosidade: Lara não sabia que ia atuar como goleiro. Quando foi designada ao jogador a camiseta número 1, Lara teria estranhado, o que causou ainda mais estranhesa nos dirigentes do Grêmio. Os cartolas do tricolor explicaram o que se passava e Lara aceitou defender o gol tricolor.
Em seu primeiro ano jogando no Grêmio, Eurico Lara sagrou-se campeão porto alegrense.
Começou a construir sua reputação nacional em 1922, quando defendeu a esquadra gaúcha em terras paulistas. Foi em um torneio disputado no estádio Parque Antártica, quando sua equipe acabou derrotada pelos paulistas por 4 x 2. O torneio foi realizado para escolher os jogadores que iriam defender a seleção brasileira em um campeonato sul-americano que iria ter na época. Lara impressionou todos com sua grande atuação, sobretudo pelo fato de ter defendido mais de 20 chutes do atacante Friendereich, que era nada menos que o maior jogador do futebol brasileiro naquela tempo. Ao final da partida, Lara foi aplaudido por todos os espectadores presentes no estádio, mas mesmo assim não foi convocado para defender a seleção nacional.
Eurico Lara defendeu o Grêmio de 1920 até 1935. Fazia defesas impressionantes, tanto pelo alto quanto pelo chão. Era muito ágil com os pés também, apesar de sua enorme altura. Eurico Lara que durante algum tempo tinha até mesmo um estilo bruto, depois de muito treino desenvolveu uma grande capacidade de controle de bola também. Em 16 anos de carreira no Grêmio, Lara sofreu apenas um gol de escanteio.
Em setembro de 1935, Eurico Lara encontrava-se doente, com a tuberculose em um estágio já bem avançado. Nessa época, a tuberculose era uma doença sem tratamento eficiente.
Dia 6 de setembro de 1935, Grenal decidindo o campeonato porto alegrense. O campeonato era tratado como "campeonato farroupilha", uma vez que se comemoravam 100 anos da Revolução Farroupilha. Esse era até então o Grenal mais importante da história, o "Grenal Farroupilha". O Internacional chegava para a decisão um ponto a frente do Grêmio e precisava apenas empatar para ser o campeão farroupilha. Para o Grêmio, somente a vitória interessava.
Eurico Lara já estava bastante debilitado e foi recomendado pelos médicos a largar o futebol e ir para regiões mais altas, procurar ar mais puro.
Eurico Lara não foi a lugar nenhum, muito pelo contrário, para delírio da massa tricolor, Eurico Lara estava em campo para defender as cores do Grêmio.
Enquanto atuou, Lara foi o destaque da partida. Fazendo defesas maravilhosas e comovendo a todos os gremistas presentes no jogo. A situação era simples: Eurico Lara estava a beira da morte, mas mesmo assim, fazia o derradeiro esforço para ver o Grêmio como o campeão farroupilha. O goleiro mesmo sabendo que esse esforço poderia lhe custar a vida, não abandonou os companheiros de time, não abandonou o Grêmio. O Internacional pressionava o Grêmio, mas à sua frente via um paredão imbatível, que mesmo debilitado, era movido pelo amor ao tricolor.
Eurico Lara jogou o primeiro tempo inteiro, muito fraco, teve de ser substituido no intervalo. Sua situação era gravissima e foi ainda mais agravada pelo esforço da partida. Lara foi levado as pressas de ambulância para o hospital Beneficência Portuguesa, de onde nunca mais saiu.
Em campo, a equipe gremista voltava para o segundo tempo determinada a fazer valer o que viria a ser o ultimo esforço da vida de Lara. O Grêmio com a raça que lhe é característica, venceu o Internacional por 2x0 e conquistou o campeonato farroupilha, com gols nos minutos finais. A torcida colorada já comemorava o título farroupilha, mas a sua frente não estava qualquer time, a sua frente estava o Grêmio e os colorados tiveram e engolir o verdadeiro Campeão Farroupilha.
No dia 6 de novembro de 1935, portanto 2 meses depois da partida, Eurico Lara não aguentou e faleceu para tristeza de toda uma nação. O enterro de Lara parou Porto Alegre. Cerca de 30 mil gremistas foram as ruas acompanhar o enterro de seu heroi, do jogador que mesmo sabendo que significaria a morte, defendeu o Grêmio até o último esforço. Com esse que foi um verdadeiro sacrifício o atleta entrou definitivamente para o coração da torcida gremista e também de quem o viu atuar.
Eurico Lara tornava-se o "Craque Imortal". Em 1953, recebeu a homenagem máxima e justa através de Lupcínio Rodrigues. Lara foi eternizado em uma das estrofes do hino oficial do Grêmio:
"Lara o craque imortal
Soube o seu nome elevar
Hoje com o mesmo ideal
Nós saberemos te honrar "
- A Lenda